Prezado Sr Leite,
Pesem embora as vossas boas contribuições naqueles longínquos tempos em que prestáveis serviços diplomáticos ao meu país, manifestação firme é agora necessária.
Devíeis saber que a cobertura jornalística do evento que, desde já, é considerado por todos os analistas políticos relevantes como o verdadeiro clash das civilizações – a luta fratricida entre Tung-Ah-Sténio e mim, Epaminondas de Sá – , é modelo para a imprensa de todos os quadrantes.
Vossas insinuações em sentido contrário enodoam um relacionamento que era marcado pela convergência de ideias, pela urbanidade e, sobretudo, pela comunhão de propósitos.
Tratei-vos sempre como um filho e, como paga, apunhalastes-me o flanco à minha primeira distração.
A torpeza entranhada em vossas letras bem poderia acabrunhar um fraco, mas deste lado do oceano há potência e fibra – recebereis agora, bigorrilhas, o peso da minha manopla.
Estivésseis aqui, salafrário, e esmigalhar-vos-ia os ossos um a um, inclusive os sesamóides eventuais, e então os transformaria em pó de cálcio e carbono, que misturaria ao leite e tomaria de canudinho
Estivésseis aqui, biltre, e arrancar-vos-ia os olhos das órbitas a dentadas, e com eles faria a sopa dos necessitados.
Estivésseis aqui, sicofanta, e tudo que vai dentro do vosso tronco seria reduzido à pasta das minhas geleias.
Mas não estais, e por isso ainda viveis.
Recebei, então, este derradeiro conselho: permanecei escondido no buraco balcânico que agora vos serve de valhacouto, e daí não saiais jamais. Não saiais jamais. Não saiais jamais. O eco destas palavras há de atormentar-vos pelo resto dos tempos e ser um lembrete de que a cimitarra de Epaminondas de Sá – lâmina de todas as justiças – pende eternamente sobre vosso pescoço.